Xamanismo

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Urarina xamã, 1988

O xamanismo é um tipo de religião de povos asiáticos e árticos. Embora a palavra xamã tenha origem na tribo siberiana dos Tugus, não existe origem histórica ou geográfica para o xamanismo, prática religiosa, de cura e filosofia encontrada no mundo todo.

O xamanismo trabalha com profundo respeito às forças da natureza, com rituais vividos por qualquer tipo de pessoa, envolvendo cristais, fogo, água, metal e madeira. É um conceito de vida que busca no autoconhecimento a chave para o equilíbrio do ser.

O sacerdote do xamanismo é o xamã, que entra em transe durante rituais xamânicos, manifestando poderes aparentemente sobrenaturais, e invocando espíritos da natureza. A comunicação com estes aspectos sutis da natureza se processa através de estados alterados de consciência. Estados esses alcançados através de batidas de tambor, danças e até ervas enteógenas.

O xamã pode ser homem ou mulher, e sempre há na história pessoal desse indivíduo um desafio, como uma doença física ou mental, que se configura como um chamado, uma vocação. Depois disto há uma longa preparação, um aprendizado sobre plantas medicinais e outros métodos de cura, e sobre técnicas para atingir o estado alterado de consciência e formas de se proteger contra o descontrole.

O xamã é tido como um profundo conhecedor da natureza humana, tanto na parte física quanto psíquica.

Xamanismo entre os Vikings (Seiðr)[editar]

O seiðr, em muitos casos, foi descrito como uma feitiçaria realizada para “ferver” certos objetos imputados de poderes mágicos, sendo basicamente utilizado como um rito adivinhatório ou para assassinato, ou ainda, como prescreve Boyer, relacionado a três ações básicas: prever o futuro, aprisionar e prejudicar. A tradução do termo varia segundo os pesquisadores, mas geralmente é interpretada como sendo canto. Tratava-se de um ritual mágico de tipo divinatório e profético, com conotações xamanistas e uma arte mágica criada pela deusa Freyja. Era um tipo de magia extática com transe, êxtase do celebrante e cantos da assembléia, geralmente realizada durante a noite e praticada sobre uma plataforma chamada de assento para encantamento (seiðhjallr). A sua realização era conectada com sons mágicos ou encantamentos, e a melodia era considerada bonita para os ouvidos. Também compreendia fórmulas mágicas para chamar tempestades e todos os tipos de injúrias, metamorfoses e predições de eventos futuros. Criada pela deusa Freyja, era praticada especialmente por mulheres chamadas seiðkonur (singular: Seiðkona). Para Neil Price seria antes de tudo uma forma de extensão do espírito e de suas faculdades, enquanto que para Zoe Borovsky a performance do seiðr simbolizaria o modelo vertical de universo (cosmológico) da árvore Yggdrasill. Como para o xamã, a praticante de seiðr devia descer ao mundo dos mortos para relatar os ensinamentos que buscam os vivos e para efetuar certos malefícios. A magia nórdica era tanto praticada por homens quanto por mulheres, com uma nítida especialização feminina. As Sagas estão repletas de práticas mágicas, mas maiores detalhes sobre o ritual do seiðr são desconhecidos.,[1]

Xamanismo nas Américas[editar]

O xamanismo é constante em todas as etnias indígenas brasileiras, sendo o xamã conhecido como pajé na língua tupi.

Xamanismo ou Pajelança Tupi – Comunicação com os encantados através de cânticos, danças e utilização de instumentos musicais (maracá, zunidores) para captura e afastamento de espíritos malignos, utilização do jejum, restrições dietéticas, reclusão do doente, entre outras práticas. Também os xamãs contam com uma série de práticas e objetos terapêuticos que incluem: o uso do tabaco (o pajé fuma grandes cachimbos), aplicação de calor e defumação, massagens, fricções, extração da doença por sucção/vômito, escarificação no tórax e locais inflamados com bico, dentes de animais ou fragmentos de cristais e as terapias por aplicação de ventosas (atualmente uma prática em extinção)

Entre os índios Guarani Kaiová a comunicação do xamã com as divindades e os ancestrais acontece através de canto e dança. Em algumas tribos da América do Sul, além de rituais com música e dança, há utilização de plantas psicoativas.

Generalizações sobre as práticas etnomédicas ameríndias ou de qualquer outra região do planeta são perigosas porque existe certa especificidade em cada sistema de crenças mítico-religiosas ou prática cultural destinada à recuperação da saúde.

Por outro lado a comparação nos permite ampliar o conhecimento sobre uso de plantas, uso de técnicas de êxtase ou mesmo sobre esse conjunto de práticas, ditas primitivas, que nos permitem conhecer e controlar estados de consciência e emoções, modificar sentimentos ou curar doenças, organizado sob a forma de um conhecimento empírico, aparentemente não lógico.

Segundo o antropológo Levi-Strauss, o "pensamento selvagem" diferencia-se do conhecimento científico por ser analógico, basear-se na introspecção (intuição) em lugar da observação e lógica de contradições.

Nos sistemas etnomédicos dos amerídios encontramaos o uso de plantas psicoativas como a jurema (Mimosa nigra; M. hostilis), a ayahuasca ou hoasca (Banisteria caapi & Psichotria viridis), o paricá (Piptadenia peregrina, P. macrocarpa) e o tabaco (Nicotina tabacum). Também pode-se encontrar utilização de produtos animais como as secreções do anuro Phyllomedusa bicolor, utilizado popularmente no norte do país como "vacina do sapo", além de técnicas de sangria, exposição ao fogo (calor), defumações, restrições de alimentação e de práticas sexuais.

Se incluirmos a América do Norte e Central, da definição de ameríndio, encontraremos mais plantas psicoativas como a datura (D. stramonium) e cactos (Lophophora Williamsii), além de fungos ou cogumelos (Psilocibe e Stropharia) e técnicas semelhantes à saunas (câmaras de suar – suadouros). Alguns antropólogos chamam atenção para especificidade das medicinas das antigas civilizações Inca e Asteca, especialmente a primeira que inclui práticas cirúrgicas como trepanações do crânio com finalidade neurocirúrgica não completamente esclarecida (descompressão de tumores, hematomas ou hemorragias).

A medicina inca sofisticada farmacopéia inclui enteógenos misturados com pelo menos uma dezena de plantas curativas ou plantas mestras. As etnias Callawaya e Aymarás conservaram e desenvolveram grande parte de sua farmacopéia. Houve em algumas regiões associação com práticas européias de hidroterapia e medicina natural, como no Chile. Manuel Lezaeta Acharán (1881-1959) ficou bastante conhecido no Brasil pela nova geração de médicos naturalistas.

No Brasil apesar da tradição multi-étnica dos ameríndios observa-se que muitas das práticas do xamanismo ou pajelança se "fundiram" com rituais católicos e espiritualistas de origem africana conhecidos em algumas regiões como pajelança cabocla, culto aos encantados, toré, catimbó, candomblé de caboclo, culto à Jurema.

Fontes[editar]

[1][LANGER, Johnni. Religião e magia entre os vikings (Seidr). Brathair 5 (2) 2005, http://www.brathair.com]

Leituras[editar]

Langdon, E.J.M. (org.). Xamanismo no Brasil, novas perspectivas. UFSC, 1996.

Bruce, Albert. O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza, in: Albert, Bruce & Ramos, Alcida R. 2002 Pacificando o Branco. Cosmologias do contato no norte amazônico, São Paulo: Editora UNESP

Eliade, Mircea. Xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. São Paulo: Martins Fontes, 1998

Coelho, Vera Penteado, Os alucinógenos e o mundo simbólico. SP, EPU Ed.USP, 1976

Martius, C.F.P. von. Natureza, doenças, medicina e remédios dos índios brasileiros, 1844. SP Cia Ed Nacional - Brasiliana, 1939

Metraux, Alfred. A religião dos tupinambás e suas relações com as demais tribos tupi-guaranis. SP, Ed Nacional (Brasiliana 267), Ed. USP, 1979

Needleman, J.; Lewis D.. No caminho do auto conhecimento, as antigas tradições religiosas do oriente e os objetivos e métodos da psicoterapia. SP, Pioneira, 1982

Bastide, Roger. Candomblé da Bahia, rito Nagô. São Paulo , Companhia Editora Nacional, 1961. 370 p. (Brasiliana, v. 313).

Levi-Strauss, C. O Pensamento Selvagem São Paulo, Companhia Ed Nacional, 1976

Villas Boas, Orlando. A arte dos pajés, impressões sobre o universo espiritual xinguano. SP, Globo, 2000

Sangirardi Jr. O índio e as plantas alucinógenas. RJ, Alhambra, 1983

Links externos[editar]

  • Sacred texts/Shamanism - em inglês.
  • [1] - The Foundation for Shamanic Studies Portugal - em português.
  • [2] - The Foundation for Shamanic Studies (USA) - em inglês.
  • ABRAX - Associação Brasileira de Xamanismo.
  • [3] - Terapeuta que convive com o Xamanismo Siberiano desde 2003.
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